Pontos fortes
Pontos fracos
Talvez esse seja um dos produtos mais curiosos na nossa seção de Produtos Curiosos. A ideia é ser um limpador autônomo, tal qual robôs cortadores de grama e os robôs aspiradores já avaliados; só que para janelas.
Apesar de ser um produto nichado, a Multi possui duas opções em seu catálogo: o R1700 e o R1800. O sistema de limpeza é diferente, o R1700 opta por almofadas enquanto o R1800 por placas de microfibra aliados a sprays de água. Com o preço de ambos e suas funções similares, era de se esperar a oferta de apenas um modelo, mas a Multi costuma apostar na abrangência máxima do seu catálogo.
A unidade tem um formato bem único: um quadrado com suporte para pegada. É toda branca com alguns detalhes em preto, simples mas equilibrado. No centro do produto o botão de Ligar/Desligar, a logo da Multi em cinza e o receptor infravermelho para o controle remoto que o acompanha. Apesar de simples, a unidade é bem construída e não apresenta deformações no acabamento.
Mais para a lateral, encontramos a entrada de energia, que alimenta a bateria. Este limpador de janelas deve ser usado sempre na tomada, mesmo tendo uma bateria interna que o consegue mantê-lo preso na janela se faltar luz. É bivolt, e para conectar precisa rosquear o plugue, e assim mesmo que o cabo se prenda em algo, não irá desconectar da unidade. O cabo de alimentação possui 5 metros e 56 centímetros, e consegue na maioria das situações fornecer liberdade para o Cleanbot trabalhar.
No lado oposto, na parte superior encontramos a abertura para seu reservatório de água, com capacidade para 40ml. Ao se movimentar na horizontal, o robô envia jatos frios de vapor de água que saem da lateral do robô.
Para encher o reservatório a Multi inclui uma garrafinha de 110 mililitros. O bico fino ajuda bastante para não pingar fora de onde deseja. O ponto fraco fica na qualidade do material: é preciso apertar o corpo da garrafinha, mas o plástico mole vai ficando amassado quanto mais vezes é pressionado.
A tampa também podia ser melhor. É dividida em duas, e muitas vezes ao querer desrosquear a tampa do bico, você retira junto a tampa da garrafinha. Seria melhor se a tampa externa saísse somente ao puxar.
Na parte de baixo entendemos o funcionamento do robô. Em meio a duas esteiras um vácuo é gerado com o auxílio de um ventilador de sucção, grudando o produto na janela. As esteiras movimentam o robô, que usa as placas de microfibra para manter o vácuo e para limpar.
Essas placas são presas com velcro, não soltam durante a limpeza. Vale ficar de olho no direcionamento delas, pois a abertura no meio é retangular e pode atrapalhar as esteiras. Umedecer as placas é recomendado para a limpeza, e a garrafinha também ajuda aqui. Junto ao produto vem 4 unidades delas. É um número suficiente para conseguir usar algumas vezes na sequência sem faltar.
Nas pontas da base vemos bolinhas de plástico, esses são os “sensores de queda” do limpador de janelas. Quando fora de uma superfície as bolinhas ficam saltadas e indicam para o robô da Multi não prosseguir.
Para utilizar o Cleanbot, é necessário colocar na tomada mas também é recomendado que você prenda ele em algum lugar mais alto para impedir que ele despenque num acidente. Por isso que já é fixado no robô uma corda de 4 metros com mosquetão.
Para ativar o produto, apenas segure o botão de ligar enquanto você pressiona na superfície até que ele crie adesão. É sempre necessário que esse processo seja feito manualmente, para garantir que há alguém ali. Pressionar o botão novamente inicia a limpeza.
Se preferir usar à distância, você pode iniciar a limpeza através do controle remoto. Há 3 opções para rotinas de limpeza, 2 opções para o vapor e controle manual. Os símbolos das rotinas poderiam estar mais claros, porém fazem sentido após saber o que fazem.
Estas mesmas opções aparecem no aplicativo Multi Casa Conectada, disponível para Android e iOS. O aplicativo é uma repaginação do Tuya, um trabalho muito parecido com o aplicativo KaBuM! Smart que encontramos ao lidar com o aspirador robô KaBuM! 100. Não é possível fazer o limpa janelas ligar ou desligar totalmente através do aplicativo, assim garante que há alguém ali operando o robô corretamente para colocá-lo ou tirá-lo da janela.
As opções estão bem apresentadas, e vimos atualizações sendo feitas durante o tempo que usamos o app. Antes o controle manual não funcionava de forma intuitiva, ao clicar nas setas abria uma seleção com as opções para se movimentar. Agora elas já operam como se espera, melhora muito o uso.
Também faltam indicações no manual de instruções sobre como conectá-lo ao aplicativo. A conexão é fácil e completamente opcional, mas no caso de dúvidas o primeiro lugar a ser consultado não traz respostas. O resto do manual é bem elaborado, com imagens bem descritivas.
Para uma unidade sem sensores rebuscados ela até surpreende na sua inteligência. Pelo o que pude observar, o R1800 imita um sensor de impacto ao perceber resistência quando move suas esteiras. Assim descobre os limites dos vidros.
Durante o funcionamento habitual, o robô parte para esquerda e para cima, atingindo os limites até se posicionar neste canto. A partir daí começa sua limpeza e ao chegar no próximo limite, gira levemente para manter-se na linha mais paralela possível. É provável que se aproveite de um giroscópio para ter controle sobre da própria rotação, fato que explicaria porque não opera na horizontal.
Além desses dois fatores, o Cleanbot Aqua apresenta uma capacidade rudimentar de contar seus passos. Ao terminar a limpeza da janela, sempre ruma para a região em que foi ativado, e acerta com um bom grau de certeza.
Há dois modos de limpeza: horizontal e vertical. Dependendo do modo o robô percorre a janela neste sentido, baixando lentamente no modo horizontal ou indo para o lado no modo vertical. As letras Z (horizontal) e N (vertical) imitam esse movimento, enquanto Z/N faz ambos em sequência.
Nos testes práticos ficou provado que a melhor estratégia para economizar tempo é deixar o robô percorrer a janela no sentido da menor direção dela. Se a janela for estreita e alta, use o modo Z; se for larga e baixa o modo N é a melhor opção. Com bases nos testes com janelas em torno de 2m², o tempo de limpeza fica próximo da taxa anunciada pela Multi de 2 minutos por metro quadrado ao usar a rotina “correta”.
Na outra rotina, pode demorar cerca de 2 minutos e 20 segundos ou mais por metro quadrado. Um aumento médio de 30%. O robô trabalha de forma mais eficaz quando está em janelas maiores, diminuindo o tempo que demora para limpar cada metro quadrado. Ao lidar com janelas pequenas, porém, contando o tempo de instalar o robô, fica mais fácil apenas limpar manualmente. O tempo do modo Z/N é a soma dos outros dois.
Um ponto fraco de usar o modo N é a ausência do vapor d’água, que só é expelido enquanto o robô está andando na horizontal. Uma opção que poderia ser adotada para garantir o uso do vapor é tornar o modo Z padrão e o modo Z/N uma “limpeza 2x”.
O controle deste vapor poderia ser mais claro. As opções presentes são Manual e Automática. No geral não é ruim, mas pode ser que você selecione a opção Manual sem perceber, apenas para o robô passar pela janela inteira sem usar o vapor nenhuma vez. Alguma luz indicativa no controle ou robô poderia eliminar esse problema. Mesmo na função manual, o vapor só é expelido quando o robô está se movimentando na horizontal.
Uma alteração no ângulo de liberação do vapor deveria ser considerada. A saída totalmente horizontal não direciona o vapor para a janela e grande parte é desperdiçada. Durante o uso externo, principalmente, qualquer brisa leva a água embora antes mesmo de qualquer contato com a superfície a ser limpa.
Mesmo assim, não tente corrigir isso molhando demais o pano. Nesses casos o robô perde aderência ao vidro e começa a deslizar lentamente para baixo. Não é suficiente para fazê-lo cair, mas o impossibilita de voltar para cima e limpar. Mesmo algumas esguichadas extras com a garrafinha já criam esse efeito, use-a moderadamente.
Por outro lado, molhar o vidro em si não parece ter surtido um efeito tão negativo. Dessa forma, grande parte da água escorre pela janela antes de ser absorvida pelo pano e fazê-lo perder aderência. Se for fazer isso, não molhe demais a superfície. Além do problema com o pano, corre o risco de gotas de água serem aspiradas pela sucção.
A Multi anuncia 2600 Pascal de sucção, mas do jeito que é feito essa medida sempre há diferença para o valor real, medido em 1883 Pa. Considerando a área em que o vácuo se forma, cria-se uma força de aderência entre o robô e o vidro em torno de 3,5 quilogramas. Somando o peso do robô com o carregador, temos pouco menos de 1,9 kg. Há uma margem considerável (1,6kg) para o produto não se desgrudar por acaso.
Um ponto fraco do produto é que ele não atravessa divisórias entre vidros. Mesmo que seja apenas um filete, a limpeza não prossegue. Se seu vidro for dividido em várias partes, será necessário utilizar em cada uma destas partes individualmente.
Isso limita o potencial de uso externo do robô. Aqui mesmo na Harpyja, as janelas possuem pequenas divisórias, que não são ultrapassadas pelo robô. Se for utilizar, é necessário usar a escada para posicioná-lo em cada janela… Só o trabalho de posicioná-lo, ligar, aguardar a limpeza e mudar de janela pode não compensar seu investimento de dinheiro e tempo.
O Limpador de Janelas da Multi deve sempre ser usado com o pano úmido e é melhor aproveitado em superfícies pouco sujas. Se há poeira demais, ela é empurrada pelo pano ao invés de ser coletada e começa a se acumular principalmente nas bordas ou é dispersada quando o robô rotaciona. Se não há tanta, ele consegue aglutinar toda a sujeira no pano.
Para aquelas marcas deixadas pelas mãos e dedos, a retirada é fácil. Porém se estão muito nos cantos podem ficar no vidro. A melhor prática é usar a limpeza Z/N.
Algo parecido pode ser dito para manchas, porém estas são ainda mais difíceis de serem retiradas. Especialmente se foram manchas úmidas, nesses casos a sujeira é parcialmente distribuída pelo resto do vidro e precisa limpar com outro pano para conseguir retirá-la. Mesmo secas, não são das mais fáceis, diria para não esperar grandes resultados. Se estiverem nos cantos então, não deverá surtir muito efeito.
A verdade é que limpeza promovida pela unidade poderia melhorar. Esse sistema de umedecer e passar o pano funciona muito bem para pouca sujeira, mas falha em atender vidros que realmente precisam de um "trato". Como os consumidores vão esperar que ele limpe completamente as janelas sem interferência, deixar sujeiras nos cantos e não lidar bem com manchas se torna rapidamente oportunidade para reclamar.
Por outro lado, a unidade se adapta muito bem em situações de limpeza diária ou lugares que ficam pouco sujos. Podemos citar vitrines de lojas como um exemplo: o vidro grande seria mantido tranquilamente por um limpador desses.
O robô possui bips agudos para indicar se está sem alimentação de energia ou em situações de perigo. Durante o funcionamento, também não é dos mais agradáveis. Emite uma intensidade sonora de 78 dBA, próxima de um liquidificador médio. O som em si lembra o funcionamento de um aspirador de pó.
Em todos os testes que realizamos, em vários vidros diferentes, o robô não caiu ou se descolou do vidro. Se acontecesse, com a corda numa posição boa não haveria tantos problemas, mas a questão aqui é complicada: numa situação de limpeza externa ou residencial pode não haver muitos espaços para pendurá-la.
Durante nossa experiência geralmente demos a volta na porta/janela e a atamos na maçaneta. Não é o melhor lugar, e na maioria das vezes fica uma amarração improvisada, mas pelo menos é um ponto de fixação.
É melhor que a corda fique presa próxima da janela. Se ficar muito distante, vai criar um efeito de pêndulo e o balanço fará o robô voltar e se chocar contra o vidro.
A recomendação de uso é apenas em vidros com bordas, e estes realmente são mais seguros. Quando o vidro não possui bordas, muitas vezes ao chegar nas pontas o limpador de janelas ficava com seus sensores para fora e incapaz de retornar. O mesmo acontecia quando o pano era umedecido demais (mencionado acima).
Em situações em que a moldura do vidro não era tão demarcada, o robô subiu na mesma. Até parecia que ele iria cair, e fazia um barulho preocupante. Porém não houve problemas, com o tempo se acostuma e até confia-se na unidade. Quando limpava janelas com persiana que recolhem na vertical, ao chegar na cortina o robô retornava sem forçá-las.
A insistência do robô em não cair é justificada, a unidade não é das mais robustas.
O exterior é todo em plástico mole, e apesar de ser fácil para limpeza (apenas um pano úmido), é frágil. Enquanto limpava uma porta de vidro, forçou contra a maçaneta metálica e ganhou um belo risco em seu corpo.
Para cuidar do robô, esvazie o reservatório de água ao final de cada limpeza. Os panos de microfibra podem ser tranquilamente lavados à mão sem problemas. Detergente e sabão podem ajudar.
Depois de usar bastante o produto, devo admitir que ele conquista sua confiança. Em nenhum momento ele caiu e poucas vezes fiquei preocupado que o faria. Por outro lado, também seria difícil de recomendá-lo.
O pior ponto é a facilidade de uso, e aqui tem alguns motivos envolvidos:
Se tivesse que recomendar o produto a alguém, seria a donos de comércio com vidraças e/ou vitrines. É um produto interessante e que pode ser bem aplicado na situação certa, mas ainda tem muito o que evoluir para se tornar abrangente e realmente prático. O núcleo central do produto imita, e muito, os aspiradores robôs. Este é um mercado que começou nichado, mas sofre tantas evoluções a anos que cresceu e continua a quebrar suas próprias limitações.
Se infelizmente o Cleanbot Aqua da Multi não é o robô que você esperava, ainda há a possibilidade que, seguindo os passos de sua "categoria irmã", em alguns anos os limpadores de janela se tornem algo extremamente útil nas vidas de muitos.
